A OCUPAÇÃO NA AMAZÔNIA NO SÉCULO XVII
C
H E G A D A D O S E U R O P E U S
A
terceira fase da ocupação humana da Amazônia corresponde ao povoamento europeu
da região. O lendário e mítico, rico reino do Eldorado. Inicialmente, as duas
superpotências da época, Portugal e Espanha, obedeciam à divisão territorial estabelecida
pelo Tratado de Tordesilhas, com as bênçãos da Igreja Católica.
Por
esse acordo, grande parte do que hoje conhecemos como Amazônia brasileira
pertencia aos espanhóis. Somente no final da primeira metade do século XVI, no
entanto, os espanhóis deram início ao reconhecimento da região. A primeira
expedição europeia ao grande rio que corta a região foi realizada entre 1540 e
1542 pelo destemido navegador espanhol Francisco de Orellana. O escrivão dessa
expedição, Gaspar de Carvajal, fez os primeiros registros escritos sobre a
floresta amazônica e sua diversidade de ambientes e culturas.
Apesar
de seu caráter pioneiro, a expedição de Orellana não deixou outros frutos que
fossem duradouros. A região voltou a pertencer exclusivamente aos cerca de 5
milhões de índios (segundo uma das estimativas existentes) que ali habitavam e
que também haviam sido motivo da admiração nos relatos de Carvajal, tal sua
quantidade e organização. Muitas décadas se passariam antes que novas
investidas à região fossem realizadas.
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O L O N I Z A Ç Ã O P O R T U G U E S A
Apesar
de os espanhóis terem seus direitos garantidos pelo Tratado de Tordesilhas, não
se interessaram por povoar a Amazônia. Por sua vez, os portugueses não vacilaram
em tomar a iniciativa de seu efetivo controle. A Amazônia já começava a sofrer
ameaças de invasão de ingleses, franceses e holandeses. A expulsão do Maranhão
dos franceses que ali tentaram estabelecer a França Equinocial alertou os
portugueses para a importância da defesa da região. Assim, coube a Francisco
Caldeira Castelo Branco fundar, em 1616, na foz do rio Amazonas, o Forte do
Presépio que, além de proteger possíveis invasões estrangeiras por via fluvial,
deu origem à atual cidade de Belém e serviu como base para o povoamento da
Amazônia.
Era
necessário alargar os domínios portugueses para oeste, para assegurar a
exploração das riquezas ocultas da floresta. Para tanto, foi organizada uma
grande expedição, decisiva para a conquista portuguesa da Amazônia. Coube ao
capitão Pedro Teixeira, em 1637, o comando da expedição composta por cerca de
duas mil pessoas, sendo a grande maioria índios. Apesar das dificuldades enfrentadas,
ela conseguiu estabelecer marcos de ocupação territorial portuguesa ao longo do
rio.
Além
da proteção contra outros europeus, os fortes também serviam para estabelecer
núcleos de povoamento a partir dos quais pudesse ser estabelecida a colonização.
Na Amazônia, os principais recursos explorados pelos portugueses foram a
mão-de-obra indígena e as drogas do sertão, especiarias de alto preço no mercado europeu.
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S C R A V I D Ã O I N D Í G E N A
De
uma área com uma multiplicidade de povos ameríndios que seguiam seu
desenvolvimento próprio, a Amazônia havia se tornado, em menos de dois séculos,
território anexo ao reino português. Além de serem capturados pelos soldados
portugueses, os índios amazônicos passaram a sofrer a ação dos missionários de
diversas ordens religiosas que se dedicavam a convertê-los à fé cristã – boa
parte da ação jesuítica dizia respeito à produção de riquezas com o emprego da
mão de obra indígena.
Os
diversos povos amazônicos resistiram o quanto puderam, mas a “avalanche”
europeia trazia muitíssimas armas desconhecidas. Além de uma tecnologia mais
avançada, os brancos trouxeram doenças contra as quais os índios não possuíam
resistência. Sarampo, gripe, tuberculose e outras enfermidades rapidamente se
alastraram entre os grupos indígenas da região, dizimando aldeias inteiras
diante de pajés que não sabiam como curar aquelas moléstias desconhecidas.
Logo
de início ficou claro que nem mesmo toda a tecnologia europeia seria capaz de
superar as dificuldades apresentadas pelo povoamento da Amazônia. As enormes
distâncias, a selva impenetrável, perigos de diferentes naturezas perturbavam
quem quer que tivesse coragem de ali entrar. As doenças palustres ganhavam
fama, as condições climáticas se revelavam extremas para os europeus e o imenso
esforço necessário para a extração das riquezas ocultas na floresta tornaram a
Amazônia um lugar indomável, indecifrável, impiedosamente selvagem no
imaginário do colonizador. Um “inferno verde”.
Passou a predominar por toda a
Amazônia o uso de uma língua geral, de origem Tupi, que auxiliava na
incorporação dos índios à empresa colonial. A mestiçagem foi estimulada dando origem
à população cabocla, tão marcante nas terras amazônicas.
Calcula-se
que, em 1740, havia cerca de 50 mil índios vivendo em aldeias formadas por
jesuítas e franciscanos. O inevitável resultado do processo de escravidão,
imposto pelo colonizador ou por meio da ação dos jesuítas, foi a redução maciça
da população indígena amazônica.
Fonte: HISTÓRIA DA
OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA – cad.prof-4-história
A Cabanagem
Introdução
A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na província do Grão-Pará (região norte do Brasil, atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas nas beiras dos rios da região. Estas pessoas eram chamadas de cabanos.
A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na província do Grão-Pará (região norte do Brasil, atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas nas beiras dos rios da região. Estas pessoas eram chamadas de cabanos.
No início do Período Regencial, a situação da população pobre do Grão-Pará era péssima. Mestiços e índios viviam na miséria total. Sem trabalho e sem condições adequadas de vida, os cabanos sofriam em suas pobres cabanas às margens dos rios. Esta situação provocou o sentimento de abandono com relação ao governo central e, ao mesmo tempo, muita revolta.
Os comerciantes e fazendeiros da região também estavam descontentes, pois o governo regencial havia nomeado para a província um presidente que não agradava a elite local.
Causas e objetivos
Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, na maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se uniram contra o governo regencial nesta revolta. O objetivo principal era a conquista da independência da província do Grão-Pará.
Os cabanos pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida). Já os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação nas decisões administrativas e políticas da província.
Revolta
Com início em 1835, a Cabanagem gerou uma sangrenta guerra entre os cabanos e as tropas do governo central. As estimativas feitas por historiadores apontam que cerca de 30 mil pessoas morreram durante os cinco anos de combates.
No ano de 1835, os cabanos ocuparam a cidade de Belém (capital da província) e colocaram na presidência da província Félix Malcher. Fazendeiro, Malcher fez acordos com o governo regencial, traindo o movimento. Revoltados, os cabanos mataram Malcher e colocaram no lugar o lavrador Francisco Pedro Vinagre (sucedido por Eduardo Angelim).
Contanto com o apoio inclusive de tropas de mercenários europeus, o governo central brasileiro usou toda a força para reprimir a revolta que ganhava cada vez mais força.
Fim da revolta
Após cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial conseguiu reprimir a revolta. Em 1840, muitos cabanos tinham sido presos ou mortos em combates. A revolta terminou sem que os cabanos conseguissem atingir seus objetivos.
A adesão do Pará a Independência do Brasil
Adesão do Pará à independência do Brasil
Neste dia 15 de agosto, um feriado estadual lembra uma importante data
histórica para o Pará: Sua adesão à independência do Brasil. Até os dias de
hoje, percorrendo a Cidade Velha ou o bairro da Campina, os primeiros de Belém,
ainda é possível observar resquícios da colonização portuguesa na Região
Amazônica e justamente esta estreita relação dos paraenses com a população
lusitana foi o principal motivo para a tardia adesão da então Província do Grão-Pará
à nova Nação, criada pelo grito de Dom Pedro I, às margens do Ipiranga, em
1822.
Para a professora da Faculdade de História da Universidade Federal do
Pará (UFPA), Magda Ricci, a adesão do Pará à independência do Brasil é o
momento histórico no qual começa a ser traçada uma identidade brasileira entre
o povo paraense, até então, isolado do resto do País.
“É um momento especial de formação de uma identidade local. O que nasceu
mais rápido foi um sentimento de pertencimento ao Pará. A adesão do Pará e a
dos paraenses à causa brasileira, em 15 de agosto de 1823, foi o primeiro passo
para a formação de uma identidade patriótica maior”, explica a historiadora.
Províncias - A pesquisadora
conta que, até 1822, o Brasil que conhecemos, hoje, era dividido em duas
províncias: A do Grão Pará e Maranhão e a do Brasil. O contato das elites e as
trocas comerciais e culturais locais eram realizadas, diretamente, com Portugal
e havia pouco diálogo com a província irmã no sul, o que, atualmente, é chamado
de Brasil. Até 1815, com a transferência da Corte Portuguesa para o Rio de
Janeiro, as províncias separadas passaram a ser uma única, batizada de “Reino
Unido”. Porém, com o retorno de Dom João VI para Portugal, em 1820, começou uma
crise no Estado, que precisava decidir se deveria aliar-se ao Brasil ou
permanecer ligado a Portugal.
“O Pará foi o primeiro local a aderir à causa revolucionária portuguesa,
pois significava poder político para Lisboa e o Pará poderia ter mais liberdade
política e econômica. Contudo, com a declaração da independência, as cortes de
Lisboa se radicalizaram e ouviam, cada vez menos, os deputados que estavam fora
de Portugal”, narra Magda Ricci. A elite da cidade de Belém era ligada à nação
lusitana de várias maneiras, desde a relação comercial com portugueses da
cidade do Porto até a presença de militares lusitanos que eram fiéis ao antigo
monarca e que pouco conheciam o jovem imperador Dom Pedro I.
Para integrar o País, Dom Pedro enviou uma frota
que deveria seguir até a Bahia para incentivar a adesão à causa da
independência. Os militares, porém, seguiram até o extremo norte, no Pará, e,
em um blefe, afirmavam que eram o primeiro de uma frota de navios que invadiria
o Estado, caso os paraenses não aceitassem, pacificamente, se tornar
brasileiros. Quando as elites perceberam o golpe, era tarde demais e elas já
estavam politicamente obrigadas a assinar o documento de adesão.
“Contudo esta tomada não mudou muita coisa na vida dos paraenses,
especialmente na vida dos mais pobres e dos escravos, dos povos indígenas e dos
mestiços. Deixamos de pertencer ao império português e passamos a pertencer ao
império brasileiro. Havia uma expectativa de mudanças, especialmente entre os
paraenses natos. Todavia nada disso ocorreu e rapidamente eclodiram revoltas. A
do brigue palhaço foi a mais conhecida e trágica”, aponta a historiadora.
O processo de adesão no Pará foi complexo e delicado, já que bastava
assinar um documento e jurar fidelidade ao novo monarca para ser considerado
brasileiro e manter seus títulos e poderes no Estado. Essa situação revoltou
parte da população paraense.
“Três meses após a adesão, uma revolta das tropas paraenses foi
duramente reprimida. Exatos 256 paraenses que lutavam por cidadania e direitos
iguais aos dos portugueses que aqui viviam foram confinados no porão do Navio
São José Diligente e morreram asfixiados, sufocados ou até mesmo fuzilados.
Este episódio marcou um momento de consciência política e de identidade local.
Nasceu ali um forte sentimento de identidade paraense que irá explodir mais
tarde em outras revoltas, como na sangrenta Cabanagem, que explodiu em 1835.
Incertezas e dúvidas - “A dúvida maior
era a de se descobrir como se tornar ‘brasileiro’”, explica Magda Ricci. Para
alguns paraenses, ser brasileiro era aderir ao movimento liderado pelo Rio de
Janeiro; para outros, era ter nascido no País. “Assim, depois da adesão de
1823, houve ainda um tempo de incertezas e dúvidas. Se a elite local estava
dividida, a população mais pobre e os escravos de origem africana perceberam
rapidamente que a independência não mudou suas vidas e, diante da fragilidade
da elite, poderiam também fazer uma revolução mais ampla para mudar suas vidas.
Tudo isso culminou em muitos levantes e mortes, que se concluíram com a
sangrenta Cabanagem de 1835.”
De acordo com a pesquisadora, esse processo de construir uma identidade
brasileira no norte do Brasil ainda não se encerrou e permanece “até os nossos
dias, quando é preciso lutar para se fazer uma identidade nacional mais ampla e
formadora de uma cidadania plena”, considera.
Arquivo Público guarda documentos e
história do Pará - A ata de adesão, com as assinaturas dos cidadãos e os ofícios
trocados entre as autoridades de Lisboa e do Rio de Janeiro com as do Pará
estão guardadas no Arquivo Público. Os jornais O Paraense e o Luso-
Paraense, que retratavam a época, também estão arquivados no local. Nesta
quarta-feira, 15, este episódio da história paraense completa 189 anos e ainda
é pouco lembrado pela população paraense. “Todos estes são periódicos muito
efêmeros e pequenos em número de páginas. Contudo são peças fundamentais de
divulgação de ideias e demonstram bem o clima político acirrado que existia
então”, conclui Magda Ricci.
Texto: Núcleo de Imprensa e Informação da Assessoria de Comunicação da
UFPA
Fotos: Alexandre Moraes e Reprodução
Fotos: Alexandre Moraes e Reprodução
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